top of page

Mederi

"Estamos exaustos e correndo. Exaustos e correndo. Exaustos e correndo.

E a má notícia é que continuaremos exaustos e correndo,

porque exaustos-e-correndo virou a condição humana dessa época.

E já percebemos que essa condição humana um corpo humano não aguenta.

Viramos exaustos-e-correndo-e-dopados. 

Porque só dopados para continuar exaustos-e-correndo. 

O problema é que o corpo não é um outro, o corpo é o que chamamos de eu.

O corpo não é limite, mas a própria condição. O corpo é."

- Eliane Brum

 

Mederi do latim: “Ato de saber o melhor caminho”, “tratar”, “curar”.

Esta palavra originou outros termos, como: Medicina, remédios, meditação, etc.

Este projeto foi realizado por alunos do 4º semestre do curso de Bacharelado em Audiovisual do Centro Universitário Senac Santo Amaro, que busca apresentar reflexões em formato de Cinema Expandido sobre comportamentos da sociedade contemporânea, intitulada como “Sociedade do Cansaço” pelo filosofo Byung-Chul Han.

REFERÊNCIAS VISUAIS

VISÃO DO PROJETO

Século 21, vida corrida, metas para serem batidas no trabalho, prazos a serem cumpridos na faculdade, um milhão de tarefas para realizar, e o tempo parece não acompanhar. Junto com as inúmeras atividades diárias, recebemos ainda estímulos externos; um e-mail para ser respondido aqui, outra notificação chega ali, lançamento de uma nova temporada da série que você acompanha e além de tudo ainda tem que encontrar um tempo para ser sociável, e é claro exibir esses bons momentos para sua centena de seguidores nas redes sociais. Se identificou? Bem vindo, você já está na Sociedade do Cansaço. 

Com o efeito dessa cultura contemporânea, a produtividade tornou-se um grande objeto de desejo. A concorrência está muito maior, todo mundo quer ser o melhor e ninguém quer se decepcionar.

Mas como ter disposição para acompanhar tamanha velocidade cotidiana? A resposta mais rápida é: utilizando drogas. O mais estranho é que antes as pessoas se drogavam para se distrair, e hoje se drogam para se concentrar. Tendo em vista que, devemos considerar como droga qualquer substância natural ou sintética (química) capaz de alterar as funções normais e habituais do ser que, ao ser introduzida no organismo, produz alterações em seu estado psíquico ou físico. Sendo assim, não é atoa que o local o qual frequentamos para a compra de medicamentos, chama-se: Drogaria.

De acordo com estudos realizados por pesquisadores da University of British Columbia (UBC), em Vancouver, no Canadá, um composto presente em medicamentos psiquiátricos, como Rivotril, Valium, Xanax, Ativan e outros remédios receitados para pessoas com ansiedade e insônia, a Benzodiazepina (BZD), está mais associado ao risco de morte do que substâncias como heroína e cocaína.

Com base nisso, o projeto visa abordar a temática da banalização do uso de remédios pela sociedade contemporânea. Segundo a definição do dicionário a palavra remédio sugere: “tudo que serve para eliminar uma inconveniência, um mal, um transtorno; sendo ele um recurso ou solução”.

É curioso o fato de encontrarmos a cada esquina uma farmácia. Segundo pesquisas, o Brasil está entre os maiores consumidores mundiais de medicamentos. Hoje, temos no país quatro vezes mais estabelecimentos farmacêuticos do que o recomendado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa relação seja de uma farmácia para cada 8 mil habitantes. Nas principais metrópoles do país, por exemplo, tem um estabelecimento para cada 2,1 mil habitantes. Um número anormal.

Esse é um dado alarmante em relação ao modo em que vivemos, a prática da cultura do medicamento a qual estamos inseridos e o reflexo disso no comportamento humano. Segundo o médico Flávio Danni Fuchs, autor do livro Farmacologia Clínica e Terapêutica, o ser humano é movido pelo “instinto de cura”. Em busca de alívio, lota as farmácias, que são vistas como uma espécie de “paraíso”, onde há solução para quase tudo.

Culturalmente, o ser humano não está acostumado a lidar com a dor ou sofrimento e cada vez mais recorre ao uso de remédios para o alívio de qualquer situação que o aflige. O grande perigo está no uso contínuo e descontrolado destes, provocando entre outros efeitos, a dependência.

A grande motivação para o desenvolvimento deste estudo e a sua representação artística, ocorreu após a percepção de que mesmo involuntariamente estamos inseridos em um ciclo envolto aos fármacos e muitas vezes o uso é feito de maneira excessiva e desnecessária. Além disso, a relação do uso de medicamento é inversamente proporcional à qualidade de saúde do usuário, então aqui acaba o tabu de que o remédio é sinônimo de saúde.

A principal importância da proposta é conscientizar o público do possível dano causado à saúde e as suas sequelas a longo prazo, que são camufladas pela “solução” rápida vendida pelas farmácias. Além disso, apresentar que o corpo também é capaz de reagir e combater os seus próprios problemas, sem a necessidade química.

bottom of page